terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dia, ah dia - Crônica

Decidi criar este blog para ter um espaço a mais para escrever.

Hoje vou postar uma crônica ( ou uma tentativa frustrada )


Dia, ah dia

O despertador toca, mais um o dia começa e logo vem a frase repetida diariamente “nossa, estou atrasado”. Tomar banho mas antes deixo a água ferver para fazer o café, coloco os pães na torradeira e os deixo por lá enquanto procuro algo para vestir. Ligo a TV para saber se o carinha lá está ainda à frente nas pesquisas eleitorais ou se o carioca ainda tem um pouco de vergonha na cara pra escolher um prefeito sem parcerias podres.

Horário de verão, o dia ainda está acordando enquanto eu fui obrigado a levantar uma hora mais cedo. Fico por ali no ponto esperando meu ônibus chegar e pergunto para meu vizinho que é servidor púbico: ”e o feriado?”, ele diz: ”espero que faça sol, acho que vou viajar”, digo, meio que sem reação: ”é, acho que vai fazer sol sim”, pego meu livro, começo a ler as duas primeiras linhas e meu ônibus tão esperado aparece.

Bom dia “motor”, espero uma resposta e ele segue em silêncio sem ao menos responder. Cumprimento o trocador, recebo uma resposta educada, passo meu cartão pelo aparelho e passo pela roleta. Tento não perguntar quanto tempo vai durar, quando mais uma função humana vai ter fim graças ao avanço tecnológico. Desvio meu pensamento e começo a contar: um, dois, três, dez, vinte, será que ainda cabe mais um no ônibus?

Fico como uma sardinha enlatada, que ótimo, era tudo o que eu esperava em uma linda manhã. Mais um engarrafamento, andar dois metros, parar, mais cinco metros, parar, dez metros, parar e esperar. Buzinas daqui e dali, sons que se misturam com os dos celulares tocando músicas, com os das conversas no coletivo, com o grito do garoto tentando vender água, jornal, biscoito, bala, ou sei lá o quê, não dá para entender nada.

Digo olá para o novo passageiro, o tal de calor, que logo se ajeita em meio aos outros passageiros e toma conta de todo o ônibus. Do lado de fora vejo carros e mais carros, com ar condicionado, conforto e menos barulho. Tudo bem, mesmo assim estão aqui, presos como eu em meio ao tempo perdido. Penso em como o dinheiro faz com que se ganhe tempo ao ver o helicóptero que acabou de passar por cima de tudo aquilo.

Pulo do ônibus que abriu a porta ainda em movimento, faço um pouso tranqüilo. Olho para o celular que me mostra outra vez “Você está atrasado”. Assistir mais uma aula e ao mesmo tempo pensar em como seria melhor estar formado, tudo bem já estou quase lá, só mais dois anos e tudo isso passa. Estar presente, ausente talvez, mas lá, contando os segundos para ouvir a tão esperada hora da saída gritar em meus ouvidos.

Mais um ônibus, agora para ir trabalhar e para pagar as contas. Converso com uma senhora sobre a vida, o tempo, sobre a perda de tempo, sobre 1/3 de vida que perdemos, ou ganhamos, sonhando, dormindo. Escuto coisas maravilhosas e vejo um sorriso amigável no rosto da senhora que me cativou e me fez esquecer o ônibus de antes.
Bom dia ela me disse quando me despedi, sorri de volta e acenei, muito obrigado.

No emprego “Bom dia” disse à todos mais uma vez. Passei o dia todo pensando em como a vida pode ser melhor. Pensei no tempo e na falta de tempo, pensei em coisas mais divertidas. Quando vi, o dia estava terminando, o sol se foi sem se despedir, volto pra casa, tomo meu banho, deito, penso no dia, fecho os olhos e durmo. Boa noite.

Um comentário:

Futuros jornalistas disse...

Ótimo texto, Ramon. E se você se empolgar com o blog vai ficar melhor ainda. Boas postagens! Larissa